Carta a quem confia no meu trabalho
Por Elias Ishy de Mattos
1. Ainda muito jovem, iniciei minha militância social na pastoral da juventude da igreja católica e ao longo dos anos fundado em sua doutrina social, tive a honra de servir a igreja em diversos níveis de sua organização sempre buscando colocar a teoria em prática. Assim estive a frente de várias coordenações pastorais, tanto local, regional e nacional. Essa experiência foi fundamental para despertar-me a sensibilidade pela solidariedade, o valor da comunhão, a aversão e indignação com toda forma de injustiça, preconceito e discriminação, sejam elas social, racial, étnica, religiosa, de identidade de gênero e orientação sexual.
2. Esta rica vivência comunitária me despertou também para a necessidade de assumir, enquanto compromisso de vida, a luta permanente por justiça, por superação dos valores baseados no consumismo e no individualismo. Compreendi que somente com a elevação da consciência política e social, com organização, mobilização e luta seria possível avançar as mudanças sociais desejadas. E foi em decorrência desse processo que fez com que eu me envolvesse como bancário no trabalho sindical e como cidadão na política.
3. No Sindicato, a nossa batalha foi sempre mais ampla do que a defesa dos interesses específicos da nossa categoria. Lutávamos para melhorar as condições de trabalho e salariais dos bancários e bancárias, porém, reforçávamos a necessidade de unidade e solidariedade em defesa dos direitos de todos os trabalhadores e trabalhadoras, além da construção de uma sociedade mais justa e ambientalmente sustentável.
4. No Partido dos Trabalhadores, contribui com a sua organização e para que pudéssemos eleger o nosso primeiro prefeito, Laerte Tetila, no ano de 2000. Foram duas gestões que marcaram a nossa cidade, com avanços inquestionáveis na política ambiental, na infraestrutura urbana, na educação, na saúde e na ampliação da participação social, comunitária e cidadã.
5. Fui eleito vereador nesse mesmo ano, fruto de um projeto coletivo que teve a participação de homens e mulheres comprometidos com estes valores e princípios, que entenderam que ocupar o espaço no legislativo era um processo natural de nossa luta para avançarmos na formulação de direitos, no enfretamento das desigualdades, na defesa da ética e do interesse público, enfim, na construção de uma cidade onde a prosperidade seja universal.
6. No parlamento, o nosso mandato esteve à frente de várias lutas coletivas. Destacamos a iniciativa que levou a aprovação da Lei que tornou Dourados um dos primeiros municípios do Brasil a proibir a queima da palha da cana-de-açúcar. Esta lei teve repercussão nacional, foi inclusive noticiada pelo Jornal “O Estado De São Paulo”. Estivemos presentes durante todo o processo que contribuiu para abrir espaço no Poder Legislativo para que a sociedade incidisse na formulação das conferências municipais e nos planos de educação, saneamento básico, arborização, mobilidade urbana e, atualmente, na revisão do Plano Diretor.
7. Na fiscalização e defesa dos interesses públicos, sempre que necessário não hesitamos em recorrer ao Ministério Público e ao apoio da sociedade por meio de suas entidades. Foi assim na ação que evitou que o governo municipal entregasse a Sanesul - Empresa de Saneamento do Estado de Mato Grosso do Sul - ao Governo do Estado, sem contrapartidas e sem o plano de saneamento básico, obrigatório instrumento orientador da política e dos investimentos no município na época. Também valorizamos e defendemos o respeito e fortalecimento dos Conselhos Municipais de participação social, espaços estes fundamentais para a formulação de políticas públicas, de fiscalização e de controle social da gestão pública. Destacamos nossas ações junto aos Conselhos de Saúde, Fundeb e Cultura. Buscamos também a orientação do Tribunal de Contas.
8. Durante todo esse período de presença na Câmara de Vereadores, nosso mandato parlamentar se consolidou com uma referência confiável politicamente e do ponto de vista ético, pois, sem hesitar, sempre estivemos a serviço das mais diversas lutas sociais, políticas, ambientais, culturais e liberdade religiosa. Fizemos da Casa de Leis um espaço de debates e participação social por meio de inúmeras reuniões e audiências públicas. Mantivemos conectados com os movimentos sociais, com as religiões, com as instituições governamentais e não governamentais defendendo os interesses da maioria do nosso povo, especialmente dos setores mais fragilizados e invisibilizados.
9. Estamos vivendo, no entanto, um momento de crise moral, social, econômica, ambiental e cultural, em consequência da adoção de um modelo de desenvolvimento que impõe impactantes cortes em políticas públicas, ataques as organizações de defesa da sociedade civil, recessão econômica, privatizações, fechamento de empresas, aumento do desemprego, precarização do trabalho, com perdas de direitos conquistados historicamente e graves retrocessos na vida do povo brasileiro.
10. Neste cenário que já era bastante adverso, particularmente a partir de 2016, com a adoção das políticas ultraliberais e aprofundado com a pandemia do coronavírus, a crise aumenta no país e, consequentemente, nos municípios, produzindo transtornos e danos à sociedade. São enormes os desafios para vencer esse “modelo de governo” e construir as condições suficientes para garantir um plano capaz de retomar não só o desenvolvimento econômico, mas o fortalecimento das políticas públicas sociais, ambientais, culturais, bem como uma recuperação que viabilize a geração de renda, trabalho digno e comida na mesa do povo brasileiro.
11. Vivemos um momento histórico, onde a eleição adquire enorme relevância para o futuro do país, do nosso Mato Grosso do Sul e dos nossos municípios. De nossa parte, lutaremos para que o povo escolha homens e mulheres comprometidos (as) com um projeto maior, inclusivo, onde cada pessoa cumpra com seus deveres e tenha seus direitos constitucionais efetivados, enfim reafirmamos o nosso compromisso com a construção coletiva de uma sociedade onde a qualidade de vida e o bem viver sejam primordiais.
12. Quero dar prosseguimento à defesa e construção desse projeto de sociedade fundado na democracia, na justiça, na solidariedade, na liberdade, na sustentabilidade econômica, social, cultural e ambiental. E também para a curto e médio prazos, lutar para que os custos da atual crise não recaiam sobre "os ombros" dos mais pobres - como sempre ocorreu neste país.
13. Por toda a nossa trajetória de compromisso com estas bandeiras; pelo comportamento ético que sempre valorizamos; pela postura política de sempre estar presente nas lutas; pela confiança que conquistamos durante esta longa caminhada, nos sentimos com legitimidade para reafirmarmos nossos compromissos de vida a serviço do conjunto da sociedade, especialmente dos segmentos excluídos e vulneráveis.
Essa é uma carta atemporal, pois sempre estaremos juntos na luta!
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